Os leitores iniciantes que se concentram em relações de letra-som, ou fonética, em vez de tentar aprender palavras inteiras, aumentam a atividade na área de seus cérebros melhor conectados para leitura, de acordo com a nova pesquisa de Stanford investigando como o cérebro responde a diferentes tipos de instrução de leitura.
O estudo (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0093934X15000772), de co-autoria do professor de Stanford Bruce McCandliss (http://ed.stanford.edu/faculty/brucemc) da Escola de Pós-Graduação da Educação e do Instituto de Neurociências de Stanford, fornece algumas das primeiras evidências de que uma estratégia específica de ensino para a leitura tem impacto neural direto.
A pesquisa poderia eventualmente levar a intervenções melhor concebidas para ajudar leitores com dificuldade.
“Esta pesquisa é emocionante porque eleva a neurociência cognitiva e a conecta a questões que têm um profundo significado na história da pesquisa educacional”, disse McCandliss, que escreveu o estudo com Yuliya Yoncheva, pesquisadora da Universidade de Nova York, e Jessica Wise, graduada estudante da Universidade do Texas em Austin.
Estratégias de ensino
As teorias sobre o desenvolvimento da leitura apontam há muito tempo para aimportância do método fônico, a aplicação de uma base fonética, com instruções grafo-fonológica para ensinar uma criança a ler, especialmente para alunos adiantados e leitores com dificuldades, mas investigar a maneira como os mecanismos cerebrais são influenciados pelas escolhas que um professor faz é uma empreitada bastante recente, de acordo com McCandliss.
À medida que o campo da neurociência educacional cresce, no entanto, tanto os pesquisadores do cérebro como os pesquisadores educacionais podem melhorar a compreensão de como as estratégias de instrução podem ser mais bem aproveitadas para apoiar as mudanças cerebrais subjacentes ao desenvolvimento da aprendizagem, acrescentou ele.
No estudo, divulgado na revista Brain and Language, os pesquisadores desenvolveram um novo código de linguagem escrita e ensinaram este novo código confrontando o ensino por meio do método fônico, a relação símbolo e som, com um método de associação de palavras inteiras – método global.
Depois de aprender uma lista de palavras em ambas as abordagens, as palavras recém-aprendidas foram apresentadas em um teste de leitura enquanto as ondas cerebrais eram monitoradas.
A equipe de McCandliss usou uma técnica de mapeamento cerebral que lhes permitiu capturar respostas cerebrais às novas palavras aprendidas que são literalmente mais rápidas do que um piscar de olhos.
As palavras aprendidas através da instrução do método fônico – relação letra/som – provocaram atividade neural em direção ao lado esquerdo do cérebro, que abrange regiões visuais e de linguagem.
Em contraste, as palavras aprendidas através da associação de palavras inteiras mostraram maior atividade neural em direção ao processamento do hemisfério direito.
McCandliss observou que este forte envolvimento do hemisfério esquerdo durante o reconhecimento precoce das palavras é uma marca registrada de leitores hábeis, e é deficiente em crianças e adultos com dificuldades de leitura.
Os participantes da pesquisa foram capazes de ler novas palavras que nunca tinham visto antes, desde que seguissem os mesmos padrões de letra e som em que foram ensinados. Em uma fração de segundo, o processo de decifração de uma nova palavra desencadeou os processos do hemisfério esquerdo.
Para McCandliss, esse é o circuito do cérebro que se espera ativar nos leitores iniciantes.
Quanto aos outros participantes da pesquisa que foram expostos ao método global – associação de palavras inteiras – o estudo descobriu que eles aprenderam o suficiente para reconhecer essas palavras particulares no teste de leitura, mas os circuitos cerebrais subjacentes diferiram, provocando respostas eletrofisiológicas que eram tendenciosas em direção aos processos do hemisfério direito.
“Essas abordagens de ensino contrastantes provavelmente terão um impacto tão diferente nas respostas iniciais do cérebro, porque encorajam o aluno a concentrar sua atenção de maneiras diferentes”, disse McCandliss. “É como mudar as engrenagens da mente – quando você concentra sua atenção em informações diferentes associadas a uma palavra, você amplifica diferentes circuitos cerebrais”.
Monitoramento das ondas cerebrais
O estudo envolveu 16 participantes adultos alfabetizados. No entanto, de acordo com McCandliss, ganhou seu poder estatístico ao ensinar todos os participantes de duas maneiras diferentes, bem como o que um aluno típico pode experimentar ao aprender de diferentes professores ou tentar dominar palavras irregulares que não confronta o mapeamento de letra a som, como “tchau” (no texto original o autor usou a palavra “yacht” por não haver aqui uma correspondência direta entre letra e som).
O novo idioma escrito baseava-se em recursos de linhas que formavam símbolos que representavam diferentes letras de um novo alfabeto. Os símbolos foram unidos para representar uma palavra visual distinta.
Na pesquisa cada participante foi treinado para ler dois conjuntos de palavras de três letras em condições idênticas que proporcionaram a prática de ver as palavras e ouvir as palavras correspondentes. A única diferença entre as duas condições de treinamento foi um conjunto de instruções no início que incentivaram os leitores a ler as palavras de duas maneiras.
Uma instrução pedia aos alunos que abordassem a tarefa de aprender cada palavra, escolhendo cada um dos símbolos de três letras e combinando cada um com o som correspondente na palavra falada – focando na relação letra/som – método fônico – O outro focava em instruções globais de palavra inteira – método global – em ensinar a associação entre palavras impressas e faladas inteiras.
Após a conclusão do treinamento, os participantes foram conectados a um eletroencefalograma, ou EEG, para monitorar as ondas cerebrais enquanto faziam um teste de leitura em figuras de palavras que já haviam aprendido.
Seguindo o estilo de treinamento de letra e som, os participantes também foram testados em sua capacidade de ler novas palavras compostas pelas mesmas letras.
McCandliss afirma que os resultados apontam que a forma como um aluno concentra sua atenção durante a aprendizagem da leitura tem um profundo impacto sobre o que é aprendido.
Ele também destaca a importância de professores especializados em ajudar as crianças a concentrarem sua atenção precisamente na informação mais útil.
BRUCE MC CANDLISS