Ensino e reabilitação baseados em evidência científica que se acumula em todo o mundo
Durante décadas o establishment ferreirista se negou teimosamente a admitir as múltiplas evidências massivas da existência da dislexia. Isso condenou gerações de crianças e jovens que, apesar de sensíveis e brilhantes, falhavam sistematicamente em cumprir seus deveres escolares envolvendo estudos e redações, ao cruel e rude tratamento de humilhação social que usualmente as autoridades (pais, professores…) aplicavam a crianças e jovens que demonstrassem condenáveis falhas morais de caráter como a displicência, o pouco caso, a vagabundagem. Num clássico exemplo de miopia de hipótese, hipóteses francamente incorretas do ferreirismo, como a de neutralidade do domínio, e de supremacia do nocional sobre o notacional, os impediam de enxergar as evidências de especialização de funções, de duplas dissociações, e da natureza elementar da escrita alfabética como código combinatório para representar a fala.
As implicações plenas da lição de Champollion de 2 séculos passados só começaram a ser compreendidas neste milênio, que finalmente pôs terra sobre os cadáveres insepultos das proscrições ferreiristas contra as práticas de leitura em voz alta, escrita sob ditado, ensino sistemático de leitura por decifração grafema-fonema, e de cifragem fonema grafema. O cérebro que virá a se mostrar disléxico tem estrutura neuroanatomofuncional diferente, e merece estudo, reconhecimento, respeito. Este é apenas mais um de uma pletora de estudos que deixam clara a realidade de que o cérebro disléxico difere do normoléxico. (Early detection, early intervention.
One chance in the pursuit of happiness and fulfillment.) Detecção precoce permite intervenção precoce, o que previne fracasso e sofrimento, e dá uma chance à realização pessoal das virtudes e possibilidades, à plenitude e à felicidade. Ensino e reabilitação baseados em evidência científica que se acumula em todo o mundo. (Fernando Capovilla)
Fernando Capovilla é Mestre e Doutor em Psicologia da Aprendizagem.
Chefe do Laboratório de Neuropsicolinguística Cognitiva da USP.