Rio de Janeiro, 20 de setembro 1994
Exmo. Sr. Ministro,
Tendo sido professora primária no Rio de Janeiro no período de 1960/65, sempre gostei de alfabetizar, tanto que, esporadicamente, ainda o faço até hoje.
Alfabetizar é muito simples e as novas metodologias poderiam contribuir para aperfeiçoar os métodos já existentes.
Acontece, porém, o contrário. Os novos discursos, baseados em teorias importadas, que muitas vezes estão longe de serem pedagógicas, enfraquecem o desempenho dos poucos professores que ainda fazem um bom trabalho na prática de Alfabetização.
No início dos anos 1960, Paulo Freire introduziu uma postura político-pedagógica na prática de Alfabetização, especialmente de adultos. A palavra significativa e a leitura global passam a fazer parte da metodologia dita progressista e moderna. O método de Freire priorizava a informação, embora do ponto de vista pedagógico, não desprezasse o código.
A partir de então, o desprezo pelo código alfabético se amplia, culminando hoje com a apresentação do texto significativo para o analfabeto, que deve descobrir a relação estabelecida entre letra e som, ou seja, o código alfabético.
Entendo que, de forma didática, cabe ao professor alfabetizador facilitar para o aluno (especialmente para o aluno carente) a assimilação do código, o que não invalida a preocupação com a compreensão da mensagem.
Nossa escrita é alfabética e, por conseguinte, não podemos fugir do cerne da questão, qual seja: a relação letra-som.
Os métodos fônicos focalizam esta relação, por isso alfabetizam tão rapidamente. Resta apenas apresentá-los dentro de uma postura mais moderna, não seccionada ou estereotipada como aconteceu durante milênios.
A polêmica dos métodos de alfabetização também perdurou nos EUA por muitos anos. Diante, porém, do aumento do índice de analfabetismo, pressionado pela comunidade e pelo Congresso, o governo americano determinou fazer um levantamento, diretamente nas salas de aula, dos métodos utilizados pelos professores que estivessem realmente conseguindo alfabetizar.
O resultado desta pesquisa ampla e profunda demonstrou que os métodos fônicos eram muito mais eficientes, superando inclusive, fatores de idade e até de QI. Vale lembrar que, em inglês, a relação letra-som não é tão direta quanto em nosso idioma.
A partir desta constatação, o problema passou a ser o aprimoramento do método fônico, pois a necessidade do enfoque fonético havia sido comprovada como essencial no processo de Alfabetização.
Face ao exposto, tomo a liberdade de sugerir que seja tomada uma decisão semelhante, a fim de que se possa determinar as metodologias mais eficientes e definir planos de ação para implantação das mesmas.
Tomo a liberdade também de anexar parte do texto referente ao capítulo introdutório do livro “Beginning to Read”, da Profª. Marylin Jager Adams, 1990, MIT Press, Cambrigde/Massachussetts.
Sem mais,
Atenciosamente,
Wanda Russo
Profª. EBA/UFR